segunda (não) volta

sexta-feira, julho 27, 2018



segunda (não) volta

eu não sei o que se passa na sua cabeça
e também não sei se necessito ou quero saber

eu só sei sentir
e não entender
lembrar
que você foi a única coisa que realmente fez algum sentido

e agora reside em algum lugar qualquer
que meu nome reside em algum lugar qualquer
da sua memória

me resta
o gosto amargo na boca
do jantar que eu vomitei na segunda
depois que você me fez sentar no banco da praça
e despejar um frio eu não quero mais continuar
parecia um discurso pronto
esse seu não está sendo recíproco
que eu confesso, me cortou
como a acidez do limão que corta a língua
e de repente, como quem não quer nada
virar a esquina da Bahia com Gonçalves Dias
e me fazer apagar qualquer sentimento que um dia tive por você.
a tortura que me resta
em permanecer com um vazio extremo e complexo
causado por você
perguntas e questionamentos que me consomem constantemente
eu estou esgotada de querer você
quando nós não somos o certo
estou esgotada de pensar em você
estou esgotada  de lembrar
estou cansada de relutar e pensar
que eu fui a culpada por você desaparecer

do nada. como se eu fosse nada. como se nós fossemos nada.

eu sinto falta
e eu odeio admitir que sinto falta
de você. de nós.
saudade da sua voz
do toque que me tonteia
que me cala e me refaz
sinto falta das horas
das voltas na praça
depois do expediente de seis horas.

a tortura que me resta
é sentar no banco da praça onde nos conhecemos
três meses atrás
e me perguntar
se você a leva lá
no banco onde discutimos
sobre astrologia.astronomia.
e sabe-se lá mais o que
onde eu me perdi e me encontrei tantas vezes
na viagem hipnotizante
que é a curva dos seu lábios.

no mesmo banco
que chamávamos de nosso
onde tínhamos todos os encontros e desencontros
marcados
no mesmo banco
onde eu disse que te amava pela primeira vez
onde eu não sabia se dizia que te amava
ou se permanecia calada
observando seu olhar carregado de mistério e incompreendido
penetrar o meu
acho que eu preferia ficar com a certeza do momento
de ter seu olhar dentro do meu
da ilusão de estar sendo amada
do que com a certeza de que você
não sentia o mesmo por mim.

mas as voltas na praça agora estão vazias
adiadas. silenciadas. caladas. mortas.


volta.

- Ana Elisa Renault.

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